...
Carta aos
Mortos
Amigos, nada
mudou
em essência.
Os salários
mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
tomba morto por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.
Reencenamos
as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote, e a primavera
chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos,
rios e florestas
se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento
dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam
fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou
em essência.
Cantamos parabéns
nas festas, discutimos futebol na esquina
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia um de nós olha o céu quando estrelado
com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração , insolente,
continua a achar que vive no ápice da história.
Affonso Romano de Sant'Anna
4 Comments:
a minah esperança é que os mortos não leiam cartas... caso contrário é uam vergonha para a espécie humana...
Tens um "desafio" no meu blog
Kerida-Kite, até "nós" os vivos, nos envergonhamos mt vezes da espécie humana, certo?... :(
beijinho
Cruxe, OK, já vi!
Obrigado... Espero amanhã conseguir tratar "disso"! ;)
beijinho
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