Só uma Homenagem ...

Hoje em Coruche foi sepultado Dr. Joaquim José Neto, um Homem que certamente ficará para sempre na memória daquela terra. Vulgarmente conhecido como “Quim Zé da Farmácia”, viveu duma forma verdadeiramente altruísta, sempre pronto a ajudar, a aconselhar, a curar… a fazer bem ao próximo! Fui tendo essa percepção ao longo dos anos (era meu primo, eu chamava-lhe "tio"), mas tudo o que sempre soube das suas caridosas atitudes, foi ainda superado com algo de tão extraordinário como o que aconteceu durante o seu velório... Muitas pessoas entraram na capela e dirigiam-se à minha “tia” dizendo: “Minha senhora, os meus pêsames, sabe o seu marido era um Santo, curou-me umas infecções com uns remédios que ele fez, e como eu era pobre, não quis dinheiro nenhum!”…Ou ainda: “Olhe minha Senhora, o seu marido, matou-me a fome”… e por aí adiante… Mas não foi 1 ou 2 pessoas, foram muitas! Impressionante!

É o que chamo de verdadeiro samaritano, um Homem de profundas convicções religiosas, mas o que realmente admiro, é o facto de tê-las efectivamente posto em prática! Sendo farmacêutico, utilizou muitas vezes o seu saber em forma de solidariedade aos que dele necessitavam!... E nos últimos anos da sua vida, ainda ajudava no Projecto que a esposa coordena (tal como o meu pai), C.R.I.C. - Crianças Inadaptadas de Coruche, continuando a dar de si a crianças e jovens deficientes ou com algum tipo de limitações oriundos de famílias pobres.

Já no fim da cerimónia fúnebre eu disse à minha “tia”, que ele era seguramente um Anjo junto de Deus por todo o bem que tinha feito, e ela dizia-me: “Viste?... Eu não sabia a maioria daquelas histórias que as pessoas me vieram contar!”… E quando nos despedimos, ela disse-me ainda: “Sim, ele está lá, onde está a tua mãe”…

Nessa altura lembrei-me duma das primeiras "histórias" que o meu pai me contou sobre a minha Mãe: “Sabes, a tua mãe, toda a gente aqui gostava dela, vou contar-te: Os teus avós tinham uma padaria não é? Então a tua mãe, naqueles tempos de muita miséria, muita fome, tirava pão às escondidas e dava às pessoas que não tinham dinheiro, sem o teu avô saber!”… E a partir daí eu entendi melhor, quando as pessoas me diziam: “Ah, tu tinhas 3 aninhos, não te lembras, mas a tua mãe foi uma Santa!”…

Por todas estas pessoas que sempre existiram, e existem…continuo a acreditar no que de melhor o Ser Humano têm, e é esse lado que me move! Se ser “Santo” é viver em partilha, na procura constante de ajudar os que mais precisam, na capacidade de prescindir de “nós” em beneficio dos “outros”… Então, claro que acredito em “Santos”... Nos que passaram por cá, nos que andam por aí, e com a convicção que outros virão!